sábado, 14 de dezembro de 2013

O peso dos nomes


Depois da crise de riso ao receber o e-mail de Cacá com o agendamento da reunião, Caio resolveu escrever ao gerente Vitor. Organizou algumas perguntas genéricas sobre o funcionamento das demais filiais para tomar como referência ao elaborar o projeto e resolveu percorrer as principais livrarias da capital gaúcha para analisar o que funcionava melhor e o que não gostaria de repetir no seu layout. 

Na incursão à melhor loja da cidade - não a maior - foi interpelado por uma mocinha simpática e cheia de piercings: "Procurando algum autor em especial?" Subitamente constrangido, Caio disparou que estava em busca da obra completa do seu xará. O ar inquisidor da garota não deixava outra alternativa além de prosseguir com o gracejo que servia apenas para disfarçar sua missão de agente infiltrado da concorrência. 
"Me chamo Caio" disse, pontuando a frase com um meio sorriso. Prontamente a menina disparou, com ares de vitória, uma ordem para que ele a seguisse: "Aqui estão todas as publicações do Caio Fernando e naquela outra prateleira tu escontras as obras sobre ele." Dito isso, despediu-se quase saltitante.

Caio agradeceu e ficou ali folheando uma edição revista de Morangos Mofados. Bem diferente da que leu, impressa em papel áspero e já amarelado num formato que mais lembrava uma revistinha de palavras cruzadas. O volume que já recebeu rabiscado em muitos trechos e acrescentou ainda outros sublinhados antes de decidir não devolver à sua colega de turma. Havia também uma coleção onde estavam algumas das cartas cuja leitura ele havia assistido, nos tempos em que rastreava toda a programação cultural gratuita da cidade - foi em um final de tarde tórrido, no gasômetro, algum estudante das cênicas leu algumas cartas de Caio para Hilda Hist, um evento alusivo ao seu aniversário de sua morte. Comprou a seleção de textos dividida em três volumes e agradeceu a presteza da garota dos piercings e olhos pintados à maneira Winehouse.

Na escada rolante, em direção ao estacionamento, pensou que o essencial na livraria dependia muito pouco da arquitetura e logo se perdeu em devaneios sobre a significância dos nomes. O que ele teria em  comum com um sujeito que sintetizou a visão de tanta gente que viveu as décadas de setenta e oitenta além do nome e de ter vivido algum tempo em Londres? 

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