A distribuição estava completa. Os exemplares de Crepúsculo,
O Senhor dos Anéis, de livros do Paulo Coelho e da Agatha Christie, os CDs, os
blu-rays; o que fora pedido fora comprado, o que fora comprado fora entregue.
Nenhuma solicitação deixou de ser atendida – nem sempre isso acontecia, afinal
o processo envolvia uma longa cadeia, mas neste fim de ano, todas as lojas
tinham tudo que afirmaram necessitar. A esta altura, a maior parte do que seria
vendido já o fora, afinal hoje é segunda-feira e a terça trará consigo a
véspera de Natal.
Tendo deixado para trás mais um período de desafio, Carlos
Alberto finalmente voltou sua total atenção para as reuniões que teria em Porto
Alegre. Passaria a noite de Natal com a família de Maria Clara; visitariam os
pais dele no dia 25. Na manhã seguinte, partiria para a capital gaúcha.
Visitaria a loja já existente da rede, tendo conseguido marcar um breve
encontro com o gerente de lá – o da nova loja ainda não havia sido contratado.
No caso de contar com algum tempo livre, cogitou visitar livrarias da
concorrência. Ainda não decidira o que fazer à noite. Não queria ficar trancado
no hotel, disso tinha certeza. Pensou que poderia pedir uma dica ao arquiteto
Caio.
Imaginaria Caio tratar-se de uma insinuação? E em caso
afirmativo, como reagiria? Carlos Alberto enxergava o homem com quem em breve
se encontraria como alguém solitário. Seria ele avesso a proximidade; ou teria
sido deixado de lado por um mundo do qual desejava fazer parte, mas que não
parecia disposto a convidá-lo a aproximar-se? Qualquer que fosse o caso (e
poderia ser ainda que Carlos estivesse plenamente equivocado em suas
suposições), desenvolvera certa simpatia pelo antigo paulista, agora gaúcho adotado.
Pegava-se imaginando que ideias o arquiteto teria para a nova loja. Visualizava
disposições surreais, estantes formando desenhos geométricos ousados, cores
loucas, vivas. Lembrou-se que nada disso seria realmente possível;
particularmente as cores seriam padronizadas.
Quanto senso prático teria Caio? Seu trabalho seria ser
prático, afinal fora encarregado de falar com o arquiteto em grande parte por
sua experiência como gerente de loja. Enquanto os clientes andam de um lado
para o outro, e os títulos populares ficam orgulhosamente expostos, e os
funcionários são treinados para manter o sorriso no rosto, alguém precisa repor
o estoque. A área da fila para os caixas precisa ser confortável sem tomar
muito espaço ou bloquear o acesso a partes do estabelecimento. A entrada da
área restrita a trabalhadores precisa estar sutilmente inserida, quase
camuflada, mas ainda assim de fácil acesso quando necessário. Os terminais de
consulta precisam estar dispostos de forma a facilitar o atendimento, tornando
o tempo de espera do cliente o mais curto possível (e liberando o atendente
para servir ao próximo freguês o quanto antes). Esperava que Caio não fosse o
tipo de arquiteto que toma considerações de ordem prática como aborrecimentos.
Decidiu que não havia porque ser dúbio: escreveria para Caio dizendo que gostaria que saíssem juntos na noite do dia 26. Caso já estivesse comprometido, poderia então fazer alguma sugestão de um lugar a visitar? Abriu o e-mail e começou a compor a mensagem.
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