Havia no ar uma combinação de odores: suor, perfume, vinho e
aromatizador de ambientes. O dourado que atravessava a janela refletia sobre a
pele clara. Uma audaz gota de suor se deixa levar pela gravidade, passa perto
do seio. Faz calor no mundo lá fora; faz mais calor no universo fechado que
ocupam.
O ambiente é agradável. De bom gosto, caso seja necessário
qualificar melhor. Sem que uma frase seja perdida, mais dois copos aparecem
entre eles. Nenhum interrogatório. Nenhum monólogo chato, nenhum silêncio
constrangedor. Uma conversa como aquelas que parecem acontecer apenas em
filmes, cuidadosamente lapidada por um roteirista para parecer espontânea,
porém perfeita demais para assim ser.
Ele seca a gota de suor. Ela responde ao toque. Beijam-se
novamente. Aproximam-se novamente. Tomam-se novamente.
Não há mais mesa entre eles, desde que ela aproximou sua
cadeira, para mostrar-lhe umas fotos no celular. Fotos de que, não importa. A
área climatizada, que os protege da elevada temperatura do verão
porto-alegrense, não o impede de suar. Ainda há vinho nos copos. Ela toma um
gole. Inclina-se e coloca o copo de volta sobre a mesa. Seu belo decote passeia
em frente aos olhos dele.
Sorridentes os dois, como adolescentes, para os quais amanhã
é um conceito tão abstrato quanto uma divindade qualquer. Ele a aperta forte.
Sente os seios dela contra seu peito.
O nome dela é Mariana. Gaúcha do interior, mora em Brasília,
trabalha em um Ministério. Estava em Porto Alegre a serviço, hospedada no mesmo
hotel que ele. Haviam se conhecido na piscina, no primeiro dia dele na cidade,
antes da reunião com o arquiteto Caio. Quando voltou da janta no restaurante
tailandês, recebeu o recado dela propondo um drink, “horário de verão, ainda é
dia, praticamente”. Aceitou. Ela volta do banheiro parecendo ainda mais bonita.
Aproxima-se dele, mas não volta a sua cadeira; inclina-se e o beija na boca.
Entre sorrisos e carinhos, ele diz que precisa ir ao
banheiro. “Tá, mas volta logo”. No breve intervalo fora de seu tórrido e
dourado universo, pensa em Mariana. Não se arrepende. Por melhor que fosse, não
teria sido tão bom quanto o que tinha agora. Enquanto seca o rosto, escuta
Maria Clara cantando, do quarto, em seu inglês perfeito:
And I don’t
know how it gets better than this
You take my hand and drag me head first, fearless
And I don’t know why, but with you I’d dance
In a storm in my best dress, fearless.
You take my hand and drag me head first, fearless
And I don’t know why, but with you I’d dance
In a storm in my best dress, fearless.
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