quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Bálsamo do Feriado

Já era dia. Victor olhou para a Televisão e a viu mostrar o menu principal do DVD de Maria Bethânia - Carta de Amor aparecer na tela e uma doce melodia tocar. Ainda sem foco visual ele olhou a o relógio em seu pulso esquerdo. 7h13. Ele havia dormido no sofá e, milagrosamente, não quebrou o copo de uísque 12 anos que abriu com intuito de ver o DVD. Normalmente ele apenas ouviria o CD e ficaria lendo um livro. Mas seu dia 24 foi cansativo o suficiente. Ainda mais com aquele drama dos presentes de natal entre os funcionários que ganharam cada um uma folga num dia escolhido de acordo com o amigo-secreto. E o próximo amigo poderia roubar a data do amigo anterior. Isto em meio à entrega de presentes e abraços. Tudo bem humano, dramático e não muito verdadeiro, provavelmente.

Chegou em casa depois de averiguar a limpeza e adequação das tarefas para o dia 26. 23h30. Recusou oito convites de colegas de trabalho, de familiares e amigos de faculdade para passar em suas casas. A solidão era um bálsamo para o jovem Werther de Goethe e pode sê-lo para mim também.

Deu-se o dia de folga para beber tranquilamente. Mas começou se embriagando e ouvindo Bethânia. Mas ele estava sozinho, poderia ser ele mesmo, menos rígido e mais sorridente. Lembra-se de ler inúmeras mensagens natalinas de desejos de "feliz natal" como se isto significasse uma enorme mudança no mundo. Ria a cada mensagem pensando o quão piegas eram colegas, amigos e familiares que enviavam mensagem ou ligavam - e ele não atendia - para não mudar em nada a vida dele, não demonstrar nada além da habitual e cultural obscenidade de amenidades natalinas.

Hoje não preciso me concentrar como normalmente. Não trabalharei e tudo esta tremendamente organizado na Hyper Books, como geralmente esta. Então posso me deliciar com uma escrita adequada e uma ópera. Vou começar a reler os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski. É interessante notar irmãos tão distintos, com propósitos tão próximos se comportando de maneira tão discordante. É uma alegoria do mundo que vivemos, geralmente as pessoas não sabem os motivos de suas ações e nem quais são suas ações, mas parecem irremediavelmente voltadas para satisfazer a seus desejos e mistérios.

Tomou banho depois de separar o livro e a ópera de Oberon de von Weber.

Seria um dia tranquilo, solitário e informativo. Como a maioria dos dias o era. Só que com risos intermitentes das cobranças de seus familiares, colegas e amigos para almoço de natal.

Victor riu sozinho se dirigindo ao banheiro e imaginou quantos receberia e quantos telefonemas teria de atender para convencer de que a solidão era uma companheira mais adequada que muitos humanos. Mas eles nunca entenderão, melhor dizer que me embriaguei - o que é verdade - e estou de ressaca, o que não é mentira. Apenas uma distorção ligeira. Em breve sentirei dor de cabeça e sede terrível.

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