Eles
chegavam de mãos dadas em direção à esteira para apanhar as bagagens mínimas
que haviam levado na viagem. Inara e Victor estavam publicamente juntos pela
primeira vez. Provavelmente isto se estenderia durante a volta a Hyper Books. A
mão esquerda dele segurando a mão direita dela. Ele geralmente mais apressado
em deixar a multidão, ela olhando para o aeroporto que parecia dividido em dois
por algo que mulheres poderiam imaginar como um cinto. A visão era clara quando
a aeronave iria pousando. Ele cedeu o lugar a ela na janela porque obviamente
ele havia divisado ao longe a construção e memorizado para descrições futuras a
quem lhe perguntasse.
Assim
que as bagagens foram apanhadas e as mãos separadas ela olhou languidamente
para ele que compreendeu e tomou de suas mãos a bagagem, assumindo o carro de
transporte até a saída em busca de um táxi que os levasse ao centro de Rio
Branco/AC, aproximadamente 18km. O que lhes custaria uma pequena fortuna, dado
que ele preferia alugar um carro, mas ela sugeriu aproveitarem a paisagem e a
baixa incidência de crimes para “curtir a arquitetura local”. Ela também fez uma pesquisa sobre a cidade.
Finalmente uma mulher que não deixa tudo nas minhas mãos e toma alguma
iniciativa. Pena que seja facialmente tão expressiva e simples de analisar.
Contudo ela também sabia não expressar, quando se esforçava o suficiente e
Victor imaginava isto, como na entrevista entre ela e Claudio. Ela esta
apreensiva, mas se forçou a não demonstrar.
Na
manhã da segunda-feira ele a convidou para fazerem a viagem. Ela tentou
esconder a surpresa, contudo não teve êxito, dado que ela sentiu o rosto ficar
quente e ele deu um leve sorriso com o canto esquerdo da boca. Terei
de desmarcar tudo e explicar aos meus familiares a escolha do local e a
companhia. Mas irei. Eu gosto dele e ele gosta de mim. Por mais que finja ou
disfarce bem, seja lá como ele chame naqueles termos que, em geral, são
técnicos. Ele é estudioso do comportamento humano, então deve saber o que faz
com os outros, mas não sabe o que faz consigo mesmo. Nisto eu posso ajudar.
Entraram
num táxi que era o próximo da fila. Ele a deixou entrar primeiro e sentou-se ao
seu lado no banco traseiro. Contudo ele odiava sentar no banco traseiro. Não
dava ideia da forma que o motorista dirigia, o quanto pressionava o freio e a
embreagem. Mas ele estava acompanhado desta vez, e não era com a jovem que
namorava há anos atrás. Ele aprendeu a ser adequado socialmente, principalmente
com Inara.
Ao
olhar para as laterais do aeroporto deixou-se divagar em lembranças do dia
anterior. Finalmente meus planos
funcionaram. E de uma maneira melhor do que eu imaginava. Lembrou-se da
manhã de segunda, quando chamou Claudio, o que havia rejeitado para a vaga de
gerente de seção. Sentou-se no meio das prateleiras e lhe ofereceu um cartão de
Feliz Ano Novo, com um bônus para o ano novo. Claudio demonstrou dúvida
facialmente e iria perguntar, quando Victor informou que ele precisaria ser o
novo gerente de seção imediatamente naquela tarde. Disse ainda que ele fez uma
avaliação e que pelo desempenho não diminuído depois da entrevista ele entendeu
que Claudio era resistente o suficiente e compreensivo para ser o chefe da
seção. Ao virar as costas o novo chefe lhe perguntou quanto à Inara.
-
“Ela foi convidada a ser gerente comercial da livraria. Não fui eu que a
escolhi, foi o responsável nacional” - Deu um leve sorriso com ambos os cantos
da boca e saiu. Foi ao encontro do novato que ele selecionou entre os três
sujeitos e que possuía uma leve mácula ao andar.
Ao
encontrá-lo o jovem, não tão mais jovem que o gerente de R.H., sorriu
discretamente e fez sinal para que o aguardasse. Ele atendia um cliente e
sugeriu uma série de livros sobre positivismo, coisa que aquele jovem odiava,
mas que era do interesse do cliente. Contudo não deixou de indicar, ao final,
um livro de críticas a esta postura filosófica. Imaginou que o gerente ouviu
tudo e esperou reprovação.
_
“Tu tens evoluído muito. Não tem problema indicar, ao final, um livro de
reflexão sobre o tema, ou crítica severa” – fez um pausa e fingiu olhar para os
lados – “Aqui esta a carta de aceite do orientador da pós-graduação que te
prometi em nosso combinado. Fizeste adequadamente tua parte. Boas festas” –
sorriu levemente novamente com ambos os cantos e saiu.
Ele
tinha oferecido a carta de seu próprio orientador da pós-graduação caso o
sujeito recomendasse Inara ao representante nacional que passou na manhã da
terça-feira passada, quando Victor estava ocupado deixando as coisas em dia e
preparando a “dinâmica” das folgas sorteadas pelo amigo secreto às avessas
deles. O representante quis conversar com alguns funcionários e Victor, já
prevendo isto, preparou o jovem para isto. Claro que ele aceitaria. Aquela
entrevista com o gerente foi a quarta na mesma semana. Ele tinha uma dívida.
Deveria pagá-la. E Victor sabia disto ainda mais. Ninguém poderia desconfiar da
conversa e dos trâmites. O jovem era discreto e cumpridor da palavra, Victor
passou a semana passada conversando com funcionários entre as prateleiras,
incluindo Inara, com conversas que não levariam ao riso, para parecer mais
profissional caso alguém imaginasse algo.
Sentiu
uma pressão em sua mão esquerda de leve. Olhou para dentro do táxi e viu a
entrada da cidade. Discreta e tranquila, perto da entrada de Brasília.
Lembrou-se do toque e olhou para a mão esquerda que segurava a de Inara. Olhou
para os olhos dela, sorriu com um canto da boca e foi agraciado com um beijo no
rosto, próximo a boca.
Ele
teria um bom final de ano. Longe da praia. Longe de conhecidos. Apenas com a
mulher que escolheu e que aceitou deixar dramas de família e crendices para se
juntar a ele nesta cidade que nenhum dos dois tinha pisado antes. Enfim, ele
teria um ano diferente e uma mulher para planejar o futuro novamente.
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